terça-feira, 30 de novembro de 2010

TGV: Sim ou não? Porquê?

3 linhas, 3 novos percursos e milhões de euros em investimento. Assim se traduzem os projectos do TGV em Portugal que querem ligar Lisboa – Madrid, Porto – Vigo e Lisboa – Porto. São projectos que envolvem inúmeros estudos, inúmeros cálculos e sobretudo verbas que neste momento são impossíveis de incluir no Orçamento de Estado. Com a crise económica e financeira instalada, os mercados em queda e a especulação de ter o FMI à porta, Portugal não pode de forma alguma prosseguir para projectos desta envergadura. No curto prazo, os três percursos pesam demasiado na carteira do Estado português. Pensando mais além, a longo prazo, num momento de retoma económica em que é necessário investir na rede de transportes, para promover o desenvolvimento nacional, a linha que pretende ligar Lisboa a Madrid poderá ser equacionada novamente.
Começando a reflexão pela linha que diz respeito apenas ao território português, Lisboa – Porto. Esta linha envolve custos de aproximadamente 4,5 mil milhões de euros, numa extensão de 292km que ligariam as duas cidades mais importantes do país. No entanto a ligação entre estas duas cidades já existe por meio ferroviário, através do comboio alfa pendular ou intercidades. O alfa pendular, comboio de velocidade elevada, tem capacidade para atingir os 220km/h, porém com as actuais condições da linha ferroviária que une Lisboa e Porto, ronda apenas os 100km/h. Assim, a principal linha ferroviária portuguesa possui um aproveitamento reduzido a metade da sua capacidade, pelo que seria de carácter mais económico, a realização de obras de recuperação da linha, habilitando-a para receber comboios alfa pendular no seu desempenho máximo. Uma viagem que a 100km/h actualmente demora cerca de 2h30, poderia resumir-se a pouco mais de 1h30. Acontece que as estimativas feitas pelos estudos do TGV, estimam que com a construção do comboio de alta velocidade a viagem teria a duração de cerca de 1h15. Cerca de 15/20 minutos de diferença, mas em que não podemos esquecer os custos que as respectivas viagens envolvem (em TGV serão 40€/pessoa). A construção do TGV requer mais meios económicos, e consequentemente terá um maior custo para o utilizador relativamente ao alfa pendular.
A ligação Porto-Vigo também é actualmente garantida duas vezes por dia pela CP. Para esta ligação a CP faz programas turísticos específicos de forma a cativar os habitantes Portuenses a visitar a cidade espanhola. Pergunto-me agora: Se a CP tem necessidade de fazer estes programas e apenas faz a ligação duas vezes por dia, justificará um investimento de 1,4 mil milhões de euros, sendo que o custo da viagem para o utilizador será substancialmente maior? Uma ligação que reserva muitas dúvidas na relação do investimento e do posterior lucro.
Por fim a ligação Lisboa – Madrid, a mais discutida e talvez a única que possa ser aceite a longo prazo. Esta ligação tem uma extensão de 203km em território português e tem um investimento de cerca de 2,4 mil milhões de euros. Na actual conjuntura económica, é uma obra pública que deve ser colocada na gaveta. Num contexto de retoma económica, esta ligação poderá ser benéfica para ambos os países. Debate-se muito a questão do transporte de mercadorias, incentivando as exportações, porém temos que ter em conta que o poder de exportação espanhol é superior ao português e assim esta linha poderá levar a que mais produtos espanhóis substituam os produtos portugueses. Esta linha atravessa o território português de Oeste a Este através das planícies alentejanas, tendo a sua primeira paragem em Évora. Uma linha que poderá ser um factor de desenvolvimento da região alentejana, principalmente em termos de turismo. Falo apenas em turismo porque considero que os custos que envolvem as viagens em TGV (estimativa de 100€ por pessoa neste troço) não estejam ao alcance de qualquer um, e por isso mesmo a população alentejana certamente não viajará em grande número para Madrid ou Lisboa. Sendo que neste último caso o serviço é garantido pela CP (neste momento a via está em obras de requalificação) com um custo menor. O turismo alentejano poderá ser beneficiado na medida em que a população madrilena (principal cidade espanhola do troço onde passa o TGV – as restantes são Cáceres e Mérida) tem rendimentos superiores aos alentejanos e terá maior oportunidade para visitar esta região. Nesta linha há que ter em conta que a sua construção se divide em dois troços (Lisboa – Poceirão e Poceirão-Caia), pela necessidade de construir uma terceira travessia sobre o rio Tejo, em Lisboa, que possa levar o TGV de uma margem para outra, de forma a ligar as duas capitais ibéricas.
Depois da reflexão sobre os 3 troços previstos, a minha principal conclusão prende-se com o investimento e o retorno económico que o TGV poderá ou não trazer. Com a alta concorrência das companhias aéreas LowCost, é preciso reflectir no facto de existirem voos que são logicamente mais rápidos e são mais económicos para o utilizador, do que o comboio de alta velocidade. O factor da concorrência poderá ser determinante para o estudo da importância do TGV em Portugal. No que toca ao utilizador penso que a vantagem do TGV é nula, já que muitos voos aéreos fazem as mesma ligações de forma mais económica. Porém, quanto á mercadoria poderemos fazer o raciocínio de outra forma. O transporte de mercadorias por via aérea é muito limitado e dispendioso pelo que o TGV seria um bom aliado à exportação portuguesa. Porém sabemos que a necessidade de importação em Portugal, é superior à exportação e como tal a criação destas linhas poderá ser um incentivo à introdução de produtos estrangeiros no mercado português. Considerando o custo do transporte de mercadoria via TGV, é mais económico que por via aérea, mas certamente mais caro do que por comboio de mercadorias. Assim também no caso das mercadorias é bastante discutível já que ao aumentar o preço de transporte, aumentaremos o preço de mercado final do produto.
Sumariamente, na minha opinião, o TGV é uma realidade que não é um ponto estruturante da actualidade portuguesa, quer devido à conjuntura económica quer pelas infra-estruturas que dispomos e são mal aproveitadas.

1 comentário:

  1. Deixo aqui algumas perspectivas politicas e técnicas pessoais.
    http://redundanciasdaactualidade.blogspot.com/2010/10/tgv-transporte-que-pode-trazer-grandes.html

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