segunda-feira, 18 de abril de 2011

O PEC IV, a demissão, o FMI e mais três ou quatro coisas a dizer

As circunstâncias económicas e políticas correm a olhos vistos em Portugal. De dia para a dia, surge uma nova notícia capaz de nos deixar ainda mais perplexos que a anterior. Esta jornada de acontecimentos, faz estragos todos os dias, os portugueses que sempre gostaram da cultura do 'desenrasca' têm os cabelos em pé e põem em causa a sua própria sanidade mental. Vivemos sob uma pressão constante, que ao mínimo descuido rebenta e ameaça instalar de forma muito vincada fenómenos sociais violentos. Desde o PEC IV que Portugal não sabe o que é abrir um jornal ou ver televisão sem referir, partidos, dívida ou juros. A crise política instalou-se com o chumbo deste PEC, num momento onde toda a oposição foi uma só voz. Aqui se espelha a dificuldade de resistência de um governo minoritário em cenário de crise económica. Esta súbita concordância da oposição, demonstrou a sede do poder, a necessidade absoluta de derrubar um governo. Sim, porque o acordo foi no voto, já que quanto a considerações sobre o PEC IV as forças políticas foram divergentes. Enquanto uns consideravam que bastava de medidas orçamentais e de cortes, outros consideraram-nas mais tarde como demasiado leves, pouco rígidas; isto de consenso, não tem absolutamente nada, é um acordo de fachada, do jogo do poder. Tiveram o que queriam, a demissão de José Sócrates, desenganem-se os que pensam que ele desiste no primeiro obstáculo à sua governação. Não tinha condições para governar sem a aprovação das medidas de contenção orçamental e como tal devolveu aos eleitores a responsabilidade de eleger um novo parlamento. Alguns dias depois, rebentou o pedido de ajuda internacional, o famoso resgate financeiro. E aqui desenganem-se novamente os que atribuem a responsabilidade apenas à oposição, sejamos racionais. Apenas quem não viu as entrevistas aos presidentes dos 4 maiores bancos portugueses, pode esquecer-se deles. O que é certo, é que os 4 bancos disseram categoricamente que não financiaram mais o Estado português. Posto isto, o que nos resta? Qual é a alternativa? A oposição chumba o quarto pacote de medidas, os bancos portugueses recusam emprestar mais dinheiro ao país. Sendo assim, o FMI foi a única saída, já que não havia fundos suficientes até à eleição do próximo Governo. Parece-me que este era o cenário ideal para Pedro Passos Coelho: o PEC IV é chumbado, o PM demite-se, é pedido o resgate, o PSD assalta o poder e pode governar 'tranquilamente' sob as ordens do FMI, sem ter que tomar decisões de peso para estabilizar as contas públicas, sem ter nas suas costas a responsabilidade de pedir ajuda internacional. As negociações estão a decorrer e veremos agora a racionalidade e tal aceitação das medidas, que a oposição tanto falou. A corrida a São Bento já ferve, a um mês e meio do acto eleitoral. Os candidatos vão preparando os seus trunfos e vão trocando acusações nas intervenções que vão fazendo, os canais de televisão já ouvem os líderes dos 5 maiores partidos, os cabeças de lista vão sendo apresentados e surgem supresas, muitas surpresas! Aquele que era o maior apartidário dos últimos tempos, o grande senhor da cidadania, não resistiu ao tacho tentador e agora treme que nem varas verdes com as reacções que obteve dos seus antigos apoiantes. Sim, falo de Fernando Nobre, o homem que defendia as causas humanas, as causas sociais, que disse 'categoricamente não' quando foi questionado sobre a possibilidade de vir a tornar-se deputado, rendeu-se e não quer assim tão pouco. Não tendo alcançado o primeiro cargo da nação, agora apenas pretende alcançar o modesto segundo lugar, Presidente da Assembleia da República. Portugal vive dias de aperto, vive dias de extremas dificuldades, vive dias em que a classe política está descredibilizada, vive dias em que precisa de estabilidade, de mão firme, e aquilo que o maior partido da oposição sugere é um homem que tendo todo o mérito na sua área de intervenção (medicina), não tem qualquer experiência na vida política, nunca esteve sentado na AR para defender as suas causas, as causas do país. Que pulso firme podemos ver nesta figura? Que credibilidade podemos dar-lhe? Que experiência tem para depositarmos nele um cargo de tamanho relevo e importância? Não vivemos dias propícios a 'estágios' na AR, não temos margem para a inexperiência. Ainda corremos o risco de ver a Constituição da República trocada com um A a Z da Medicina. Não é isto que quero para Portugal, se algum dos meus leitores o quiser, pois votará em consciência e terá também o respectivo desenrolar das funções posteriormente. O PS não baixa os braços, já os mais antigos militantes nos ensinaram que "quanto mais a luta aquece, mais força tem o PS". E aos poucos, vemos subidas nas sondagens, vemos a desejada maioria absoluta do PSD muito longe da realidade, vemos a coligação PSD-CDS/PP a desvanecer-se e a ficar abaixo dos 50%. Se o PSD quiser alcançar o poder, para mal dos seus dirigentes terá que obter um acordo muito firme com o PS e com José Sócrates. O PS não governará sem o seu Secretário-Geral, que por sinal foi eleito com 93,3% dos votos por parte dos seus militantes, que assim não deixaram margem para dúvidas. Ainda muita tinta correrá até ao verdadeiro desfecho das eleições legislativas, neste momento o PS continua a ser a melhor 'alternativa', nenhum dos outros partidos ou líderes me oferece segurança ou sequer programas eleitorais que me digam 'sim, neste momento estão aptos a governar Portugal com credibilidade'. No maior partido da oposição, não há programa eleitoral, há uns pseudo-candidatos independentes, há um líder inexperiente, pouco maduro politicamente e que não está preparado para um embate de tamanha importância e responsabilidade. E o Presidente da República, Cavaco Silva, onde fica no meio disto tudo? Simplesmente não fica. Mais uma vez, o seu afastamento das questões fulcrais, é evidente. O silêncio do PR torna-se demasiado ensurdecedor! As comunicações que faz são desde há um mês, na sua novíssima página do facebook. Pena é que ele não perceba que é uma minoria da população que tem acesso à sua página, actualmente apenas cerca de 65 mil pessoas. Mas ao seu silêncio e relativo afastamento também já Portugal se habitou, mais uma vez fica em Belém a observar o que se passa, nem nada dizer ou fazer. É certo que a função do PR não é interventiva, não deve envolver-se nas questões governativas, mas tem um papel de certa forma moderador que não existe em Cavaco Silva, não pondo em causa a sua competência, o exercício das suas funções deixa muito a desejar.


E é assim, numa bola de neve,que Portugal está e estará nos próximos tempos. O lema já não é 'um por todos e todos por um' mas sim 'salve-se quem puder'!

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