segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Natal, Brinquedos e a Crise

Tenho receio no que aqui vem, tenho receio que sejam feitas más interpretações. Mas como quem cala consente e eu não quero consentir, tenho que o dizer.
Este fim-de-semana fomos invadidos por publicidades constantes de "50% de desconto em todos os brinquedos" vindas directamente dos Hipermercados Continente. Poderíamos aceitar uma maior afluência aos hipermercados em questão, poderíamos aceitar que se adiantassem as listas de natal para cerca de mês e meio antes, mas não podemos aceitar a loucura! Sim é exactamente de loucura que se trata. Não é qualquer população que em menos de 3 horas depois da abertura do hipermercado, consegue esvaziar a maioria das prateleiras e transformar os corredores numa verdadeira feira. Não tendo nada contra as feiras, sabemos que são locais onde os produtos se expõem com pouco rigor e bastante desordenados, o que não é característico de hipermercados em dias normais. Aquilo que se passou no Hipermercado Continente de Cascais, foi um verdadeiro atentado aos brinquedos. Prateleiras vazias, carrinhos cheios. Falta de stock visível, caixas de pagamento cheias. O verdadeiro caos. Ninguém sabe o preço de nada, ninguém sabe onde está nada. O que interessa é comprar. Absolutamente idêntico a 10o gaivotas à procura de uma migalha. 50% são 50% mas não se tratando de descontos directos, há que ter o dinheiro para avançar de antemão. E onde anda esse dinheiro...?
Pergunto-me agora onde está realmente a crise?! Claro que temos que ter em conta que estamos no início do mês, com salários fresquinhos e subsídios de Natal a fervilhar. Mas justifica isso tamanha afluência, tamanha loucura, tamanha correria? A verdade é que muitos daqueles que levavam os carrinhos cheios, vão ter dificuldades em ter dinheiro para comer até ao resto do mês. Porque se assim não for, não sei onde anda a tal "crise económica". Crise em Portugal, temos sim. Mas além dos problemas económicos temos crise social e ideológica. E essa sim é assustadora e dificilmente terá um fim. O consumismo português é bastante notório, e quanto a isso não há crise que valha. Quando toca ao consumismo fácil e supérfluo, o português está em grande. Nem que seja preciso endividar-se até às costuras ou reduzir a alimentação por uns dias, o que importa é a aparência, o que importa é comprar. E se possível, ser visto a comprar! É o auge. Mas depois quando as câmaras o filmam, claro que tem que se lamentar. Somos uns tristes, estamos no fundo, vamos todos morrer à fome, é a tragédia! Mas esquecem-se de dizer que no dia anterior saíram do Continente cheios de brinquedos e fizeram gastos supérfluos. O português só está bem quando está mal.
Ainda quanto aos brinquedos, ao natal e à crise. Vejam só onde chegamos, para ser necessário andar à pancada por um brinquedo. Meus caros portugueses e leitores que apreciam estes desabafos, acham que perante o cenário económico de que tanto se fala, esta loucura é necessária? Ou será que a música do "Mundo encantado dos brinquedos" anda a encantar graúdos e não miúdos? Será que o grande problema é a crise económica? Ou será que o português é um gastador nato, um consumista que não sabe o significado de contenção? Ou será ainda que a ambição de ser superior ao outro é maior que a carteira? Tantas interrogações mas muito poucas respostas. A verdade nua e crua. Sim, pelo Natal a tradição diz que se dão presentes. Mas nesta altura não faz sentido a tradição ser superior ao poder de compra e ser superior ao próprio homem. Já os nossos avós nos ensinaram que o que conta é a intenção. Bem, mas acho que isso em Portugal não importa. É ver quem dá a melhor prenda, qual é a mais cara. E o resto fica para depois. Primeiro a imagem, depois a sobrevivência. Infelizmente não posso ser superior a mim própria, e não posso chegar aqui e instaurar a revolução da mentalidade. Mas posso, e isso ninguém me tira, expressar aqui para quem queira ver, esta indignação que o típico português me causa. Está dito.

1 comentário:

  1. O português é consumista e é pressionado para o ser. Tanto que se o comum português receber um desconto para imaginemos queijo, daquele bom, daquele que nem todos se podem dar ao luxo de comprar, o português vai e compra. Porque tem um desconto. Pode arranjar queijo de uma marca branca, que é mais barato do que o outro queijo (mesmo com desconto) ele não vai comprá-lo.

    O português não só é consumista, como também é orgulhoso. Estamos todos em crise, mas a partir do momento em que temos desconto (o que na maioria das vezes não passa de manobra de marketing)já não é preciso contenção.

    Bom texto, gostei e concordo plenamente ;)
    Beijinhos
    Rita

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