domingo, 23 de maio de 2010

Desigualdades Económicas e a Crise em Portugal


Aqui fica o segundo capítulo da reflexão da disciplina de Filosofia (no seguimento do artigo anterior). Neste a reflexão é baseada apenas em Portugal.


Portugal revela, nos sucessivos estudos, uma das maiores taxas de desigualdades económicas da Europa, sendo que habitualmente é apenas ultrapassado pela Letónia. No nosso país é necessário considerarem-se os rendimentos não monetários, já que estes representam cerca de 20% dos rendimentos familiares. Este ponto aligeira de certo modo a questão da grande desigualdade económica entre as famílias portuguesas. É também de notar que são os salários e ordenados públicos que mais contribuem para o crescimento da desigualdade, e os rendimentos privados (excluindo trabalho) e as transferências sociais preenchem o fundo da tabela, com um menor contributo na desigualdade. Este facto deve-se à disparidade de salários públicos. Como exemplo prático podemos comparar um trabalhador que recebe o salário mínimo, com um gestor público de uma empresa de renome nacional. Ora a diferença é enorme, sendo que grande parte dos gestores públicos e grandes empresários ganham pequenas fortunas quer em ordenados, quer em prémios ou até mesmo nas suas posteriores reformas. Também é importante referir que os aumentos graduais dos seus salários são superiores em valores monetários em relação aos salários mínimos, pelo que a desigualdade aumenta ainda mais. O grande problema da economia portuguesa na desigualdade salarial é os extremos dos quais a sociedade é constituída. Ainda no ano de 2008, os 10% de população com rendimentos maiores ganhavam 10 vezes mais que os 10% mais pobres.
A desigualdade económica nacional tende a relacionar-se maioritariamente com a desigualdade salarial, porém não é o único factor responsável pela determinação da (des)igualdade. As políticas sociais e fiscais apresentam-se também com um papel relevante, na distribuição de impostos e taxas sobre os vários valores remuneratórios. Estas políticas são determinantes na ajuda ao combate da desigualdade. Ora não se pode pôr com as mesmas taxas ou impostos, um indivíduo X que tenha um salário mensal de 500€ e outro indivíduo Y de 5000€. A capacidade financeira dos dois indivíduos e o poder de compra são totalmente diferentes. 10€ fazem mais diferença no bolso do indivíduo X do que 100€ no do indivíduo Y, pois para este último é uma percentagem bastante menor do seu ordenado mensal. Assim as políticas fiscais têm como missão aplicar as taxas e impostos que forem considerados necessárias para a manutenção da economia do país, tendo em conta os vários escalões existentes. É também pelo facto das diferenças de rendimentos que existem as políticas sociais. Anualmente as famílias recebem a indicação do escalão ao qual pertencem, sendo que cada escalão corresponderá a determinadas condições e compensações fiscais e/ou remuneratórias.
Ao apresentar conclusões similares a estas, provavelmente, grande parte da população apontaria o dedo ao actual governo, porém é preciso ser consciente e ter noção de que as desigualdades económicas e a crise que o Mundo atravessa, não são de exclusiva responsabilidade do actual executivo do Primeiro-Ministro José Sócrates, nem apareceram apenas nos últimos anos. Sem olharmos às vozes partidárias, temos que ser lineares e racionais. Claro que os índices de desigualdade e de economia nacionais, dão pouco ânimo estando várias vezes abaixo das médias da UE, porém é de ressalvar que já tivemos indicadores muito piores que os actuais. Temos assistido a uma constante evolução, porém não tem sido constante; e para que seja possível ultrapassar outros países nas tabelas da OCDE ou da UE, o crescimento nacional tem que ser maior do que o de muitos outros países. O momento não é propício a grandes crescimentos. Este é um sector particularmente frágil para Portugal, mas nem tudo é negativo. Outros estudos e indicadores, colocam Portugal em lugares cimeiros na vanguarda de algumas inovações. Portanto existem pontos fortes e pontos fracos. Estes últimos, que necessitam de ser explorados até ao mais ínfimo pormenor.
Relativamente à crise, podemos admitir que a crise se instalou no ano de 2008 e agravou-se fortemente no ano de 2009.Uma crise económica traduz sempre grande instabilidade económica, social e política. A situação económica de Portugal é realmente preocupante e merece especial atenção. As dificuldades económicas reflectiram imediatamente as dificuldades sociais, sendo que a subida das taxas de desemprego contribuem fortemente para o cenário negro a que se vai assistindo. O pior da crise já terá passado, sendo que caminhamos para tempos de renovação, de renascimento e recuperação. Porém para que se possa realmente afirmar que “o pior já passou” é preciso incentivar toda uma população desgastada e recuperar os cofres. Assim, mesmo no tempo certo da execução desta reflexão, temos vindo a assistir à implementação de medidas e planos de crescimento/austeridade. Como já foi referido as políticas fiscais e sociais são primordiais, e neste caso em concreto são a base da recuperação. Vimos nas últimas semanas a aplicação de novas taxas e impostos relativamente, por exemplo, a ordenados, IRS, IRC, IVA e mais-valias. Estas novas taxas visam a recuperação económica do país, solicitando a participação dos cidadãos. Estas taxas são estabelecidas de acordo com a remuneração das famílias, sendo que o corte de ordenados é apenas aplicado nos gestores públicos, políticos e reguladores. De novo, sem querer olhar às vozes partidárias, temos que ser racionais, pensar e ver o que é preciso para o país. Os governos não são constituídos por pessoas perfeitas, não reúnem consenso geral, porém são eleitos sob sufrágio pelos cidadãos e como tal procuram cumprir o que é possível e procurar as soluções para os pontos fracos. Qualquer cidadão português tem a noção de que o governo é criticado diariamente, é atacado em qualquer descuido, porém é neste governo que todos os cidadãos, independentemente das ideologias, têm que acreditar, até que o mandato termine. São estes políticos que zelam pelo melhor do país, procurando a diminuição das desigualdades económicas e sociais. Actualmente a principal preocupação é a crise, claro. Ninguém quer ver o país numa situação similar à da Grécia e como tal, se os cofres estatais estão feridos, os cidadãos são chamados a contribuir. As medidas tomadas não são do agrado da maioria, pois afinal de contas quem quer pagar mais?! A contestação social é geral, e os sindicatos vão sair à rua. Vamos assistir a mais greves, vamos assistir a mais revolta, vamos ver mais actos de repúdio aos nossos governantes. Mas de certeza que o executivo que tomou esta posição, também não o fez de ânimo leve. É sempre uma questão difícil, agradar a gregos e troianos, reabilitando a economia, e tendo em conta que o actual Governo teve que faltar à promessa de não aumentar os impostos. Os trabalhadores estão descontentes, estão cansados, estão fartos de sacrifícios, estão fartos da contenção diária, estão fartos da crise económica, mas nada há fazer senão trabalhar e procurar a retoma financeira. Considera-se ainda que enquanto a exportação portuguesa não aumentar significativamente em relação às importações, ter-se-á uma tarefa muito complicada. As exportações representam normalmente grandes quantias no PIB dos países. Este problema não afecta só Portugal, é algo geral, com maior ou menor valor/impacto. Planos de austeridade, são apresentados diariamente por esse Mundo fora, com vista a não cair em bancarrota. Se as exportações não forem valorizadas, as trocas serão escassas. Portugal continua a precisar de comprar muito aos países da Europa e como tal precisa também de vender os seus produtos. Caso contrário a despesa será sempre maior que as receitas e não sairemos facilmente desta situação. Esta situação não é eterna, e haverão de surgir melhores tempos, em que o Mundo irá respirar de forma mais folgada. Vários sectores de actividade têm atravessado dias complicados. Indústria, Turismo, Hotelaria,… receiam diariamente as quedas de receitas, devido à contenção realizada pelas famílias. Os sinais de retoma vão aparecendo lentamente, sendo Barack Obama e os EUA, grandes impulsionadores destes sinais. Espera-se um contágio vagaroso ao resto do Mundo.
Contudo é importante lembrar que este é um problema do Mundo contemporâneo, e certamente que quando este amainar, outro virá ao de cima e será problemático na sua medida. Cada problema, tem a sua conta. Muitos problemas tem este Mundo, na sua maioria da responsabilidade da mão humana. Temos que ter a consciência que uma crise económica é um dos piores problemas que se pode atravessar nas sociedades, porém há muitos outros que não devem ser esquecidos e certamente serão abordados por alguns colegas.

1 comentário:

  1. Muitos parabéns Alexandra. Os teus textos demonstram uma maturidade muito maior do que seria de esperar para a tua idade. Com certeza trás um futuro brilhante à tua frente se continuares a postar na tua formação e a cultivares-te. Acredito que já dediques muito do teu tempo a isso pois isso transparece nas tuas palavras.

    Gostei bastante do teu texto, mas tenho uma pequena ressalva a fazer. Quando dizes que o aumento dos impostos visam a recuperação económica, penso que queria dizer a recuperação das finanças públicas. Pois a recuperação económica resulta do seus próprio crescimento e esse é tendencialmente afectado por baixas de impostos.
    Acrescento um ponto importante que omitiste para a situação financeira e económica do País: a baixíssima taxa de poupança do País. De um modo geral a população vive acima das suas possibilidades, dependente de créditos bancários e sem poupar. Provavelmente a culpa será da ilusão do poder de compra que o recurso ao crédito possibilita e a aparente igualdade face aos restantes países da UE, pois os vencimentos não são iguais.

    Continua, tens talento e potencial.
    Luta pelo que acreditas e assim inspirarás também os outros.

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