Exmo. Sr. Abe Selassie,
Chefe da delegação do FMI em Portugal
Exmo. Sr. Aníbal Cavaco
Silva, Presidente da República de Portugal
Exmo. Sr. Vítor Gaspar,
Ministro das Finanças do Governo de Portugal
É sangue português aquele
que me corre nas veias e alma lusitana aquela que preenche o meu ser. Nascida
num outro país do centro da Europa, mas genuinamente portuguesa. Tenho orgulho
neste país que descobriu o Mundo, que levou a língua portuguesa até aos mais ínfimos
recantos e que canta o Fado, o sentimento mais português.
Do alto dos meus 18 anos,
estudo Economia, numa universidade pública da distinta cidade de Lisboa. Diariamente,
estudo a história, os livros, as teorias, os fenómenos, os estudos. Nestes,
estudo as condicionantes, os pressupostos, as incompatibilidades e os erros.
Afinal, nenhuma teoria se aplica à prática. Ao mesmo tempo, diariamente, assisto
a um Portugal sem rumo, sem norte ou sul, sem pulso.
A minha geração é hoje o
alvo fácil, estamos condenados a pagar algo para o qual não contribuímos,
convidam-nos a emigrar, abandonar o país sem estudar ou produzir. A aposta na
minha geração é hoje igual a zero, a nossa educação é cara para o Estado e igualmente
não nos dão oportunidade de retribuir esse investimento. Quem pode negar o
atrevimento jovem, a irreverência ou o espírito empreendedor?. Olho para o
lado, eu ou o meu colega de curso, quem terá ‘sorte’ ou ‘azar’. 38,3% dos
jovens estão desempregados. Simplesmente, estamos condenados, os sonhos
acabaram.
Aos meus avós, que trabalharam
toda uma vida, vão-lhes tirando o pouco que ainda têm. Aos meus pais, exigem
impostos e contribuições, aquilo que amealharam fora e trouxeram de volta para
o seu país, é hoje inexistente.
Levanto-me todos os dias e
saio de casa, para aprender mais e procurar algo de novo, uma diferença. Faço a
minha intervenção cívica que considero essencial para me completar como ser
humano. Mas agora pergunto: qual será o meu futuro? Abandonar o país que me
educou, não exercer a profissão com a qual sonho ou simplesmente sobreviver na
sombra de alguém?
Todos estes dias em que
ainda sonho, rapidamente o real se transforma num pesadelo. Em cada esquina
alguém tem fome, alguém pede ajuda, alguém dorme na rua, alguém simplesmente
perdeu tudo. Ainda assim, querem fazer-me crer que valerá a pena os cortes, os
impostos e as contribuições. A impotência de não poder dar a mão ao outro, de
ajudar ou minimizar o seu sofrimento, consome-me.
Depois desta crise
económica, social e de valores, quantos milhares de pessoas terão emigrado,
ficado para trás ou simplesmente desaparecido deste Mundo? Ainda assim, dizem
vocês que valerá a pena. As fórmulas de Excel, tantas vezes erradas, não
consideram as pessoas, as famílias destruídas, o país condenado à sobrevivência.
As teorias refletem o passado,
as fórmulas são matemática. O presente é um país empobrecido, que retira aos
seus cidadãos aquilo que pouparam, para pagar o que outros esbanjaram, endivida
a atual geração de jovens e ainda assim não consegue recuperar, porque não
investe, não arrisca e não se atreve.
Não reconheço Portugal. A
aventura, a atitude, a ousadia e o atrevimento de outrora, o espírito de
descoberta que corre no sangue de cada português, onde estão afinal? Quem vos
levou?
O futuro é uma incógnita,
as certezas de ontem são as incertezas de hoje. As incertezas de hoje são os
problemas de amanhã. É tudo tão simples e tão difícil, tão claro e tão negro
num momento só.
A vocês, que governam este
país, que comandam a nação, que lideram a Europa ou que mandam no Mundo: os
meus 18 anos trouxeram-me certamente menos do que as vossas décadas de vida e
experiência, o meu primeiro ano de curso em Economia ensinou-me manifestamente
menos do que os vossos estudos. Mas Portugal, esse sim, é o mesmo para mim e
para vocês, teremos maneiras de o olhar diferentes ou simplesmente os vossos
interesses serão mais altos que os meus?
Despeço-me, respeitosamente.
De mais uma jovem que
deixou de acreditar,
Alexandra
Domingos