quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mentalidades inflexíveis

Sei que a mentalidade de um povo é um tema particularmente delicado e difícil de se abordar, mas teimo em falar dela. Não me posso calar, não posso permanecer a olhar e ficar impune aos comportamentos decorrentes da mentalidade dos cidadãos portugueses. Obviamente que não quero rotular ninguém, não somos todos iguais e felizmente existe um grande grupo de pessoas que não é assim. Mas em qualquer cultura ou sociedade nós conseguimos identifcar uma espécie de corrente ou uma maioria que teima em sobreviver acima de todos os outros.
Porque é que o português tem que ser diferente? Porque é que o português tem que ultrapassar a regra? Porque é que o português tem que ser o espertalhão? Porque é que o português tem que se destacar por onde passa? Porque é que o português tem que ser Doutor?
Não podemos negar que o típico português tem que ser o "chico-esperto" lá do sítio. Por onde passa tem que ser rei e senhor, sabe tudo e que ninguém ouse ensinar o que quer que seja. Juro-vos que não entendo esta mentalidade, ou então sou eu que estou nos sítios errados e vejo demasiadas pessoas nestas condições. Cada vez menos podemos contar com um cidadão propriamente dito, com ideias, com objectivos e sobretudo com projectos de vida regidos por padrões socialmente aceitáveis. Continua a ideia de que o que interessa é o que se passa dentro das 4 paredes de casa, o que sai da nossa porta não é nosso. E é este o ponto fulcral que nos leva à maior parte da cota de falta de civismo em Portugal. Quando saímos de casa, temos ainda mais responsabilidade do que dentro de casa. Na via pública, tudo é de todos e portanto todos temos que respeitar esse espaço, promovendo a sua limpeza e conservação. É errado pensar que não é preciso preocupação, e que o que vem atrás fará isso por nós.
Repito que não pretendo criticar ninguém, mas sim uma classe. O facto de já ter passado algum tempo de vida noutro país da Europa, ajuda-me nesta imcompreensão, simplesmente porque a dita mentalidade não se assemelha em nada! No fundo acho que a maioria quer estatuto, quer título e para isso faz o que for preciso. Actualmente, perante a crise que atravessamos, já se perde a conta à quantidade de pessoas que andam na rua como se não tivessem qualquer dificuldade, gastam o pouco que têm para mostrar que são pessoas desafogadas, mas no fundo mal ganham para sustentar a família. Isto preocupa-me. Continuamos a viver das aparências e não da essência do ser, vestir-se com roupas de marca conceituada continua a dar um círculo maior de amigos. Este é um verdadeiro problema, um vício social que desencaminha muitos, sobretudo jovens.
Continua a deixar-se os dejectos dos animais nos passeios, continua a deitar-se a pastilha e o papel que temos a mais no chão, continuam a deixar-se beatas dos cigarros por todo o lado, basicamente a falta de civismo impera na via pública, o que se traduz numa excessiva falta de limpeza e brio naquilo que é de todos e no que nos deveríamos orgulhar.
Estamos num país que acenta muito na crítica. A crítica poderá ser benéfica caso seja composta de forma construtiva e inteligente, de modo a melhorar um determinado serviço. Mas temos que cair na realidade e ver que a maioria das críticas, são tudo menos inteligentes e construtivas. A crítica do português baseia-se demasiado no "bota-abaixo" e muito pouco na sugestão. Uma crítica deve ser apresentada com pés e cabeça e sobretudo com sugestões e alternativas que no nosso ponto de vista possam ser benéficas. Um trabalhador que execute mal a sua função, perde toda a legitimidade em criticar o trabalho de outro. Este mundo tecnológico em chats, fóruns ou em simples comentários noticiosos, mostra-nos a falta de capacidade de raciocínio lógico e coerente de uma grande camada da população. Volto a dizer que isto preocupa-me. Os jovens são criticados todos os santos dias, a toda a hora, são o podre da sociedade. Mas na realidade isto acontece porque poucos são os mais jovens que ousam falar e dizer o que está mal nas camadas mais velhas. Os mais velhos, falam dos mais novos sem olhar a sua imagem perante uma sociedade tão despreocupada. Jovens ou menos jovem, compõem a sociedade como um todo.
Certo é que quando o português emigra e vai trabalhar num país bem diferente do seu, é eficiente. É mão de obra que agrada e que trabalha a bom ritmo. Será porque as recompensas monetárias são maiores? Ou porque sabe que fora de Portugal, para comer tem que trabalhar a sério? Ou porque é imposta a famosa "rédea curta" logo à partida?
Não posso chegar aqui, escrever meia dúzia de palavras e mudar meio mundo, simplesmente porque isso é impossível. Mas posso escrever e ser ouvida, fazer reflectir sobre o que temos à nossa volta e pelo menos fazer com que se tire alguma conclusão. Meras mentalidades!

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